Silvério Fontes

Dr. Silvério Fontes nasceu no dia 1º de dezembro de 1858, na primeira capital provincial do estado de Sergipe, a cidade de São Cristovam, a quarta mais antiga do país, distando 23Km da atual capital Aracajú.

João Martins Fontes, bisavô paterno de Silvério, era dono de engenho no estado de Sergipe, possuidor de invulgar dote de inteligência, casado com Ana Francisca da Silveira Fontes, deixou vários filhos, entre eles Joaquim, avô de Silvério.

Joaquim Martins Fontes (1798 a 1860) figurou, a época como um dos políticos de maior evidência no estado de Sergipe, tendo conquistado os títulos de: Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro, a Comenda da Ordem de Cristo e, Capitão-Mor das Ordenanças da Vila do Lagarto. Foi casado com Ana Joaquina Portella, e deixou numerosa prole.

O pai de Silvério, que se chamava José Martins Fontes nasceu na Vila do Lagarto em 1829 e faleceu em 1895. Foi Juiz Municipal, Procurador da Tesouraria Provincial e Deputado da Assembléia Legislativa da Província por 6 legislaturas consecutivas. Foi casado com a srª Francisca Xavier Gomes Fontes e, com ela teve 9 filhos, sendo Silvério o mais velho.

Silvério Fontes fez seus primeiros estudos em Aracajú, também lá se preparou para entrar na Faculdade. Foi aprovado para a Faculdade de Medicina da Bahia, onde cursou os primeiros anos. Em meados do curso, transferiu-se para a cidade do Rio de janeiro e concluiu, seus estudos, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em 1880, cumprindo requisito do ensino médico, defendeu tese a cerca do tema Infecção Hospitalar. Já naquela época, demonstrava estar muito a frente de seu tempo, pois seus colegas nem imaginavam a importância de tal assunto, que, até hoje, é tópico de estudos nos congressos médicos. Tornou-se médico em dezembro de 1881.

Os relatos históricos antecedentes a vinda do Dr. Silvério fontes a Santos, descrevem a cidade como uma região baixa e pantanosa, pois não haviam sido construídos os canais de Saturnino de Brito.

O ambiente era propício à proliferação de mosquitos transmissores de várias doenças, e como também não se verificavam os recursos mais elementares de higiene, o resultado era que, não só o povo santista, mas também os tripulantes europeus que atracavam no Porto de Santos contraíam moléstias infecciosas e morriam por falta de recursos médicos.

A má fama não poderia tardar. Uma cidade com um porto internacional e foco de doenças epidêmicas foi motivo suficiente para lançar o nome do País ao mundo como um “cemitério internacional”. Várias foram as publicações na imprensa estrangeira relatando tal desgraça.

Apesar dos esforços do Barão do Rio Branco para tentar reverter politicamente esta situação, a providência mais acertada foi tomada pelo Imperador D. Pedro II que, muitíssimo incomodado com a situação, solicitou, em todo território nacional, apoio das ciências médicas. Criou condições favoráveis para que médicos, principalmente os recém formados, migrando para Santos, abraçassem a causa, tentando salvar vidas humanas e, revertendo assim, a famigerada reputação da cidade e do País.

Foi então que, atendendo ao apelo Imperial, o recém formado médico, Dr. Silvério Fontes, em 1882, atraca no Porto de Santos, imbuído das melhores intenções para oferecer seus préstimos na preservação da saúde pública.

Um ano após sua chegada, contraiu matrimônio com Isabel Martins Fontes, filha de Francisco Martins dos Santos com Josephina Olympia de Aguiar de Andrade. O sogro do Dr. Silvério era líder de importantes movimentos intelectuais e Grão Mestre da Maçonaria. Sua sogra Josephina era descendente da 4ª geração da família Andrada, baluarte da política brasileira. A feliz união de D. Isabel e Dr. Silvério marcou, de forma indelével, a sociedade santista e, do casal frutificou sete filhos: José, Elisa, Álvaro, Belisa, Isa, Velsíro e Isette.

O médico Dr. Silvério Fontes exerceu em Santos e na região a medicina com muita dedicação, ética, competência e boa técnica. Prestou relevantes serviços a saúde da comunidade.

Trabalhou na Santa Casa de Misericórdia de Santos e no Asilo de Órfãos. Foi um dos fundadores do Instituto de Radium São Paulo.

De seus pacientes carentes, nada cobrava e, atendia grande parte deles recebendo em espécie, como foi com o lote no Bairro do José Menino, que em troca de seus préstimos recebeu em doação, na frente da praia, que naquela época não tinha grande valor econômico. No terreno, com a ajuda dos amigos, construiu a casa de sua família.
A casa de Silvério Fontes ficava na atual Av. Presidente Wilson, nº 68, onde está erguido hoje um edifício que ostenta uma placa fazendo alusão ao fato de ter tido ali, morador tão famoso. Bem defronte, no jardim da praia, está o busto de seu filho ilustre, expoente de nossa cidade, o poeta e também médico José Martins Fontes.
Freqüentemente, vários pacotes de livros, oriundos da Europa e desembarcados no porto de Santos, chegavam para o destinatário Dr. Silvério, que era um devorador de livros, não só da área médica, mais de temas variados, de São Tomas de Aquino à Tomás Morus, sempre em busca de sua evolução e aprimoramento de sua cultura. Quanto mais conhecimento obtinha, mais dedicava sua vida à medicina, certo de que só assim estaria sendo útil para sociedade.

A prática cotidiana da medicina fez Dr. Silvério enxergar que grande parte de seus enfermos, apresentava doenças decorrentes da miséria e, impulsionado por esta constatação, envereda, com brilhantismo, para as causas sociais, destacando-se com grande sociólogo, fato este que tornou a cidade de Santos a pioneira no movimento socialista no estado e no país.
Graças a este livre pensador, Santos foi o primeiro município do Brasil e da América Latina, a praticar a doutrina Socialista. Não a radical, terrorista, comunista de extrema esquerda, mais a de conceito filosofal, pregada e professada por Karl Marx. Foi fundador de vários jornais na época, sempre conscientizando a classe menos favorecida.

Em 1928, Dr. Silvério Fontes, já há algum tempo restrito ao leito por uma enfermidade rebelde, no dia 27 de junho, aos quase 70 anos de idade, veio a falecer. A notícia da morte consternou vivamente a população inteira da cidade. Seu enterro foi uma verdadeira apoteose. A cidade de Santos chorou com grande sentimento a sua morte, ficando órfã de atos de benemerência e de humanidade do Cientista, Jornalista, Livre Pensador, Socialista e grande Médico Dr. Silvério fontes.