O notável sábio brasileiro, doutor Luiz Pereira Barreto, nasceu em Rezende, Estado do Rio de Janeiro, a 11 de janeiro de 1840.
Seus pais, abastados fazendeiros da barranca do Paraíba, eram o comendador Fabiano Pereira Barreto e Francisca de Salles Barreto. Haviam eles destinado o jovem à carreira jurídica, talvez sob a sugestão do tio, o conselheiro Antonio Barreto Pedroso, mas Luiz Pereira Barreto desde logo se inclinou para a Medicina.
Fez seus estudos primários em sua terra natal no Colégio Joaquim Pinto Brasil, onde iniciou também os preparatórios, os quais, todavia, veio a concluir em São Paulo, no Colégio “João Carlos” em 1857.
Contando 17 anos de idade, parte para Montpellier, na França, a fim de, ai completando seus estudos de Humanidades, poder matricular-se na Faculdade de Medicina. Daí, resolve desistir e ingressa na Universidade de Bruxelas. Após três anos de estudos, isto é, em 1860, é nomeado preparador de Química da Faculdade de Medicina de Bruxelas, trabalhando então na cátedra do professor Franqui. Cinco anos mais tarde, em 1865, doutora-se em Medicina e Ciências Naturais.
Voltando ao Brasil, no mesmo ano de 1865, aos 25 anos, portanto, confirma com destacado brilho no Rio de Janeiro, os títulos profissionais obtidos na Bélgica, apresentando a tese de doutoramento à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, causando sensação entre os examinadores, tal o alto conteúdo científico e filosófico para aquela época.
Um ano após regressar da Europa, isto é, em 1866, desiste de fixar residência na sua bela Rezende, escolhendo Jacareí para iniciar sua extraordinária carreira médica. Em pouco tempo, adquire vasta clientela, graças aos seus predicados de clínico dedicado e competente e hábil cirurgião. Ai casa-se com Carolina Leitão Peixoto, com quem teve quatro filhos: Clotilde Augusta Pereira Barreto, José Pereira Barreto, Luiz Pereira Barreto Filho e Paulo Pereira Barreto.
Ingressa discretamente na política, por esse tempo, mostrando-se um democrata liberal, nacionalista intransigente, sempre pronto a saltar em defesa dos interesses brasileiros. Desde os primórdios do movimento republicano, ele filiou-se à corrente renovadora, aderindo ao manifesto de 1870 e, logo mais tarde, à Convenção de Itu. Não assinou esse manifesto, nem compareceu a Convenção por espírito de moderação e modéstia, que tanto caracterizava a sua formação moral.
De 1876 em diante, Luiz Pereira Barreto preocupa-se cada vez mais com o problema dos cafezais, em seu progressivo esgotamento, no Estado do Rio de Janeiro e na região chamada “norte de São Paulo”. Dessa patriótica preocupação, pela sobrevivência da lavoura cafeeira, surge Pereira Barreto jornalista.
Dedica-se inicialmente à apaixonada propaganda da terra roxa paulista, pois através do aproveitamento da mesma ele obriga a própria salvação da cafeicultura.
Sincero e honesto em todas as suas campanhas, torna-se também cafeicultor na terra-roxa do oeste. De sociedade com alguns irmãos, compra por 30 contos de reis, uma fazenda de 800 alqueires, situada justamente onde hoje prospera a imponente cidade de Ribeirão Preto.
Para lá transporta, com o máximo cuidado, sementes da nova espécie, formando uma das mais ricas lavouras da zona.
Mas se assim trabalhava o jornalista, convertido a lavrador pela própria pregação, o médico igualmente não descansava. Tanto cresceu o êxito profissional do médico e cirurgião Luiz Pereira Barreto, que Jacareí tornou-se acanhada para a clientela enorme, que vinha procurá-lo dos quatro cantos da Província, determinando a sua mudança para a capital em 22 de maio de 1883, após 17 anos de permanência na bela cidade do Vale do Paraíba.
Em São Paulo continuou a clinicar, a ser lavrador, político e publicista. Data daí a sua participação mais acesa nas lutas políticas, culminando em 1887 com a sua desassobranda situação como representante da cidade de São Simão no Congresso Republicano, realizado no Rio de Janeiro. Foi após a sua mudança para São Paulo que Pereira Barreto começa a se interessar mais vivamente pela viticultura e o fez acidentalmente.
Foi, em 17 de maio de 1888, que o doutor Luiz Pereira Barreto compra a primeira parte do Sítio Santa Carolina, em Pirituba, que após várias transações, totaliza 110 alqueires de terras, sendo que sua cultura era composta de 40 mil pés de café e um vinhedo de 10 mil pés de videiras de diversas qualidades para mesa e vinho, além de pomar com diversas arvores frutíferas e o restante em bosque de eucaliptos, capoeiras, mata e pasto. “A fortuna que adquiriu na cirurgia, em que foi dos maiores do seu tempo, ele a investiu nas experiências de Pirituba”, conforme narra Fidelis Reis.
Conhecedor das recentes experiências de Pasteur na viticultura escreve ao diretor da Escola de Viticultura de Lião, Victor Pulliat, que por sinal ainda as ignorava, solicitando exemplares de uma variedade rústica. Recebidas às mudas, cultiva-as. Um ano depois, em vez de carta comunicando seus resultados, manda ao mesmo cientista, cachos de uva legitimamente européia, frutos magníficos, que causam sensação na França, após noticia na imprensa.
O Doutor Pulliat, encantando, escreve ao diretor da Escola Agrícola de Montpellier, professor Foex, dizendo: “Acabo de receber uns cachos de uvas que me mandou o Dr. Barreto, de São Paulo. Se o Brasil tivesse meia dúzia de homens como o Dr. Barreto, a viticultura européia estaria vencida”
Em Pirituba, no Sítio Santa Carolina, onde hoje estão os bairros de Vila Doutor Pereira Barreto, Vila Barreto, Jardim São José e Vila Maria Trindade, que o Dr. Luiz Pereira Barreto cultivou a sua grande coleção de vinha. Aqui foram plantadas variedades vindas da França, Egito, Síria, Inglaterra, Alemanha, Portugal, etc.
Posteriormente visitando o estabelecimento de Pirituba, um jardineiro da rainha Victoria entusiasmou-se com a coleção de Tibouchinas e propôs permutar exemplares com variedades raras de videiras pertencentes à mencionada soberana. Provieram dessa permuta, entre outras, a Golden Queen, a Mr Pearson, etc. Emilio Goeldi, em Videiras Americanas, escrevendo em 1889, diz que “o Dr. Barreto possuía já em São Paulo, em 1888, uma coleção de mais de 400 variedades (350 européias e 60 americanas)”. Grande parte dos vinhedos de Pirituba calçou-a também Pereira Barreto de pedra e protegeu-os com telas de arame, pois aí era bem maior a voragem de pássaros, morcegos, ratos, gambás, acrescidas ainda pelos cachorros do mato.
Após a proclamação da República, em cujo pródomos teve Pereira Barreto acentuada influência, é ele eleito em 1891, senador estadual e primeiro presidente da Assembléia Constituinte.
Sobre a proclamação da República e as contemporâneas atividades vinícolas de Barreto, vale a pena transcrever o que deixou escrito, Campos da Paz no Relatório apresentado ao Governo de Minas Gerais – Exposição Vinícola de São Paulo em 1897: “No dia 15 de novembro de 1889, no momento em que recebia a notícia em Pirituba da proclamação da República, o Dr. Barreto acabava de proceder à hibridação da Rupestris com a Chasselas doré, isto é, fecundava com o pólen da Rupestris os órgãos fêmeos da Chasselas doré”.
Depois dessa retumbante vitória, de repercussão internacional como viticultor, Pereira Barreto volta ao café, cultivando-o, desta vez em Pirituba. O seu intuito era tornar o produto mais barato e facilitar sua exportação, pelo porto de Santos. Manda vir sementes de todos os países produtores, experimenta-as, até encontrar a que melhor se adapte ao clima paulistano. Forma assim, em Pirituba, soberba lavoura. Acusado porém de pretender transformar São Paulo num imenso cafezal, com prejuízo a de outras culturas, e temente, por sua fez, os perigos de superprodução, desgosta-se e deixa perecer sua florescente lavoura, que chegou a contar com 40 mil pés.
Doutor Luiz Pereira Barreto morreu em 11 de janeiro de 1923, no mesmo dia em que exatamente completava 83 anos. Ainda pela manhã trabalhara na Beneficência Portuguesa, esse homem estupendo, esse patriota modelo, médico, cirurgião, filósofo, político, cientista, agricultor e jornalista, que em todos esses setores destacou-se como operoso, erudito e honesto. Foi sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e membro da Academia Paulista de Letras.